domingo, junho 01, 2008

As pipas como elo entre o passado e o futuro

Angustiante. Foi esta a descrição que me levou a ler O Caçador de Pipas, de Hosseini. Já um best-seller na época e com fuma adaptação fílmica em cartaz. Tanto críticas positivas quanto negativas permearam os meios de comunicação, principalmente os jornais, desde o lançamento do referido livro. Porém, a meu ver, nenhuma delas conseguiu exprimir o que exatamente se sente ao lê-lo.

A estranheza já se instala no memento em que percebe-se que a história fala do Afeganistão, um país sobre o qual, mesmo depois de ataques e guerras, não sabemos praticamente nada. Mais ainda, trata de valores que para nós são desconhecidos, os valores do islã.

O contexto em que tudo se passa é definitivo para que certas ações dos personagens se dêem daquela forma. A época tratada precede a tomada talibã do governo afegão e os massacres que as diferentes etnias irão sofrer nas mãos deste regime extremista.

O eixo da história é a amizade entre Amir e Hassan, “os sultões de Cabul”. Meninos que cresceram juntos e dividem momentos de suas vidas, mas não de forma igual, já que Amir é da etnia pashtun, rica e considerada a “dominante” do Afeganistão, e Hassan, que por ser da etnia hazara, é o criado da casa, juntamente com seu pai Ali.

Amir é quem narra a história de sua vida. Percebemos que a crinça se divide entre o ciúme que tem da relação de Hassan com Ali, e de Hassan com seu baba (pai) e a indefinição de considerar Hassan, “o garoto de lábio leporino, a lembrança mais remota de sua infância” como seu amigo ou não.

É o ciúme e a vergonha da covardia que irão mudar os destinos desses jovens. A lealdade de Hassan, inabalável, custará a ele humilhações e perdas. E a covardia de Amir, paralisante, irá custar a ele seu melhor amigo e um rumo diferenciado em sua vida.

Livro de uma humanidade latente. Que nos detalhes e nas ações dos personagens toca em temas universais como o amor, o ciúmes, a mentira e a morte. Leitura “dolorida” para os que ainda se surpreendem com a crueldade e abnegação a que o ser humano se presta. Seja de que religião for.

Olhe para o céu e sorria para aquele pequeno asteróide

Esta com certeza não é a primeira e nem será a última crítica feita ao livro que, a muitos anos, faz parte das bibliotecas tanto públicas quanto particulares que vêem em seu relato não apenas uma história de caráter inocente e infantil, mas uma lição de vida que o pensador francês Saint-Exupèry deixou de herança para uma humanidade desacreditada em si mesma e na honestidade e beleza das relações humanas e naturais.

O Pequeno Príncipe pode não pertencer à lista de clássicos na qual se encontrar os livros de Vergílio, Dante Alighieri e Heródoto, mas, com toda certeza, é uma obra indispensável para aquele que acredita que os clássicos contemporâneos têm tanto, e alguns até mais, valor para a vida que os consagrados Clássicos da Humanidade.

Além de dedicar-se à escrita deste livro, o autor ainda nos presenteia com seus desenhos em aquarela de cada passagem da obra. O interessante é que o traço do escritor corresponde aos de uma criança, mesmo já sendo um homem adulto com alma de criança.

Livro que trará aos que lerem a lembrança de como o mundo é aos olhos de uma criança pura e inocente e de como poderia ser se cultivássemos estas qualidades como norteadoras de nossas vidas. Pois já dizia o principezinho louro que sorri num asteróide distante: “És responsável pelo que cativas”.