quarta-feira, setembro 27, 2006

Aqueles olhos

Ah! que falta faz a profundeza daquele olhar, olhar que atravessa, que enxerga o que a maioria não vê, que vai ao ínterim buscar a alma.
Que fascínio causam tais olhos. Aprisionam, encantam, enfeitiçam. Olhos de feiticeiro, daqueles das velhas histórias da infância, que roubam nossa atenção, fazem aflorar os sentimentos, que arrepiam os cabelos, ou "anuviam" o olhar.
Olhos de um menino-homem. Com a força do tempo e a ternura da inocência.
Olhos mágicos. Que fazem parar o tempo, o espaço, o mundo. Todo o universo pára, por um segundo, mas pára. Perde-se o chão, o norte, o sul, o leste. Tudo se embaralha e se esclarece ao mesmo tempo.
Divinos olhos. De quem ama quieto ou declarado. Daquele que na timidez se esconde, mas que nos olhos se revela. Linda alma.
Pena não tê-los em meu horizonte agora. Olhos tão queridos. Olhos de sonhos, sim, de devaneios, de um realidade incomum, sem regras ou julgamentos.
Olhos seguros, decididos. Olhos saudosos. Incomuns. Únicos.
Ah! quem me dera tê-los sempre ao meu real alcance. Sem ter que recorrer a lembraças e a devaneios. Permita, Ó Força, Deus, Luz (chame como melhor lhe convier) que eu os tenha, pelo menos mais uma vez, frente a esses olhos que, como janela de minh'alma, suplicam pelo contato, pela beleza, pela paz que tais olhos emanam.
Ah! Aqueles olhos!

quarta-feira, setembro 06, 2006

Palavras "vivas"

Escolhi trabalhar com palavras. Ou será que foram elas que me escolheram para um propósito maior? Seriam as palavras dotadas de vontades e dicernimentos?
Certos momentos me fazem crer que sim...
Não sei se este misterioso fenômeno afeta somente a mim, mas me sinto, em alguns instantes, apenas um meio pelo qual a mensagem vai ser transmitida.
Já me ocorreu de acordar de madrugada para escrever.Uma escrita que fluía independente da minha vontade, as palavras se combinavam sem que para isso eu tivesse que utilizar minha razão construtora. As frases surgiam, parágrafos inteiros e textos.
E o mais intrigante é que não haviam erros, ou construções sem sentido.
Tudo seguia uma ordem, uma ordem "inata" sem que eu houvesse interferido.
Não quero com isso proclamar minha mediunidade, como alguém que psicografa, muito pelo contrário, tenho a nítida impressão de que não possuo nenhum tipo de sensibilidade "extra" por assim definir.
Mas me vejo como um escultor, o qual apenas esculpe na madeira a forma que já havia descrita em sua essência. Ah! os filósofos gregos adorariam tal explanação. Sim, essência e aparência era um tema muito recorrente entre grandes pensadores.
E muito esquecido pelos atuais "intelectuais".
Como imaginar uma grande obra como "Os Lusíadas", por exemplo, sem pensar que certas palavras já possuíam seu lugar definido? Será o homem capaz mesmo de criar algo absolutamente partindo do nada? Ou há algo mais?
Incógnitas. Enganam-se aqueles que pensam que só a matemática as possui. O mundo as possui. O universo.
Assim fervilham perguntas e possíveis explicações. De onde vieram, não sei, mas sei que a razão humana não pode ser inteiramente disassociada de sua alma.
Sim, a alma. A essência. O ser.
É inútil se gabar por um trabalho bem feito, por um texto bem feito.
Melhor é tentar entender o porquê de tais palavras, de tal linha de raciocínio, de uma ordem pré-estabelecida, "cósmica".
Só sei que não serei aquela que dará as respostas a tantas indagações.
Mas sim aquela que não deixará de perguntar, de investigar, de instigar.
Os textos nascem como nós. De algo já estabelecido. Um código interno.
Só que para eles ainda não há uma "genética" que explique um "parto cerebral", um nascimento de idéias.
Portanto, sigo como aquela que "dá a luz" a idéias e textos que, quem sabe em algum outro plano (o Plano das Idéias de Platão), já fossem realidade.