terça-feira, junho 12, 2007

Ouçamos o apelo da Favela do Siri (maio/2007)

Do chão de terra batida a chuva fez lama. Não há como andar sem, pelo menos, sujar os pés ou até as canelas quando as poças são mais fundas. O asfalto, tão necessário e querido, nunca chegou. O lixo que se acumula por todos os lados traz perigo, doenças e também a renda de muitas famílias. Casas simples, de tijolos e cimento, misturam-se a barracos modestos, com paredes de tábuas e teto de brasilite.
A fiação é antiga, com ligações clandestinas. O esgoto está presente nas casas de alvenaria, e muitos barracos nem sabem o que é ter água encanada. As necessidades saltam a olhos vistos e, como se não bastasse, uma enorme duna ameaça as casas, as ruas e, principalmente, a saúde e paz dos moradores da Favela do Siri, no norte de Florianópolis.
O frio, característico dos meses de outono e inverno, de nada ajuda; só faz a situação parecer ainda mais penosa. Os ventos “cortam” a pele dos pés descalços e trazem as doenças respiratórias; aqueles mais fortes e devastadores fazem a montanha de areia “andar”, soterrando casas, ruas inteiras; a areia entra pelas frestas, entra nos olhos e nos pulmões.
Aos habituados com as imagens divulgadas pela mídia das favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo, a visão da Vila do Arvoredo, nome que a prefeitura deu para “amenizar” o rótulo de favela, pode não corresponder à expectativa. Na verdade, é difícil considerar o cenário que se apresenta como tão pobre e necessitado quanto aqueles “mares de morro” das capitais do sudeste.
Mas, se apurarmos o olhar, se nos detivermos nos detalhes, se despirmo-nos dos preconceitos, veremos que a dimensão da favela não é, necessariamente, proporcional às suas carências.
As pessoas que lá vivem devem ser vistas e ouvidas com atenção.
A Favela do Siri, como muitas outras, sempre foi ignorada e “deixada de lado” pelos que governam a cidade e as opiniões. Porém, um empreendimento imobiliário, um tanto polêmico devido à sua instalação numa área de preservação, o Costão Golf, trouxe às manchetes essa comunidade do norte da ilha.
O grupo Marcondes, responsável pelo Costão, alega que a favela, ou melhor, a visão da mesma, irá impossibilitar que seus clientes tenham uma “bela vista” do teleférico que “correrá” o céu daquela região interligando os dois empreendimentos do grupo (Costão do Santinho e Costão Golf).
A saga de remover as famílias do local começou. “Ah! Isso é uma novela!”, exclama Glauceli Carvalho Ramos, a Galega, representante dos habitantes da favela, quando perguntada sobre a situação que aflige os moradores da vila e suas casas.
Cinco mil reais por propriedade, ou terreno, é o que a prefeitura tem oferecido às 290 famílias que moram na Siri para se mudarem, para deixarem suas casas - que com muito trabalho conseguiram montar - e voltarem para suas cidades de origem. Segundo Galega, noventa por cento dos moradores da favela não são de Florianópolis e, ainda, a maioria possui um documento que comprova a compra de seus lotes, que não são resultado de uma simples invasão como alegam os políticos.
“Queremos no mínimo cinqüenta mil por família. O que se pode fazer com cinco mil? Não dá para comprar uma casa”. Esta afirmação de Galega exprime toda a indignação das pessoas que moram na Vila do Arvoredo e que não querem deixar seus trabalhos, a escola de seus filhos e, principalmente, o lugar que eles consideram seu lar.
Em meio a esse impasse alguns locais são estudados para o novo endereço da Favela do Siri. O primeiro lote oferecido pela prefeitura localiza-se no Rio Vermelho e o segundo, em Vargem Grande; contudo, as populações que moram nos arredores dos lotes fizeram abaixo-assinados contra a mudança das famílias para perto de suas casas.
Assim, outros locais estão sendo propostos. Uma das possíveis localidades seria em Capivari de baixo, porém os moradores da favela dizem preferir a opção dada pela Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), um banhado nos Ingleses - que depois de adaptado poderia receber a comunidade. O maior benefício desse local é o de ser perto de onde é a favela atualmente, e desse modo as crianças poderão continuar na escola e os pais não perderão seus empregos.
Do ponto de vista ambiental, trata-se de tirar uma comunidade que sofre com a má localização - grandes dunas e bancos de areia, um local que deveria ser de preservação permanente - e apenas mudá-la para outro local que, de início, também não serviria para a fixação de casas por seu terreno ser “instável”.
Só se transfere o problema de lugar, não se pensa em como melhorar a vida daquela população sem afetar diretamente o ecossistema de um local que, por lei, é preservado. Seria esse o melhor caminho ou apenas o mais fácil? Com certeza, o mais fácil.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

nunca vi tanta bestaira escita. Invadiram a área e agora querem indenização? Volta de onde vieram e venha para florianópolis comprar sua casa legalizada pela prefeitura.

6:37 PM  
Anonymous Tamara said...

Por que os politicos se preocupam com a copa de 2014 enquanto muitos brasileiros estão nessa situação?????

10:31 AM  
Blogger Wander said...

INCRÍVEL COMO EU TRABALHO HONESTAMENTE, PAGO MEUS IMPOSTOS E NÃO TENHO AINDA UMA CASA PRÓPRIA. JÁ SEI, VOU INVADIR UM TERRENO QUALQUER E PEDIR INDENIZAÇÃO PARA A PREFEITURA E ELES ME DARÃO UMA CASA PRONTA!! JÁ É MODA AQUI EM FLORIPA, A ANGELA AMIM INICIOU ISSO COM O POVO DA VIA EXPERSSA - BR 282, LEMBRAM???

2:12 PM  
Blogger Gabriel said...

que ignorancia velho, Luis Henrique é um facista e voces dão razão pra esse imbecil, os moradores da favela do siri vieram pra ca por empregos prometidos, trabalhadores de verdade, não banqueiros ou empresarios que são falsos trabalhadores, a terra o lucro são dos trabalhadores, éssa é a verdade incontestavel sempre, ir contra isso é individualidade imbecil de quem vai estar dando razão aos grandes capitalistas que vão te ver pelas costas sempre,a culpa não é deles a culpa é dos governos e suas falsas mentiras, a idenização impede que aquela area assim como outras virem rizortes de luxo para gerar lucro adoidado pra meia duzia

11:46 PM  

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