domingo, abril 15, 2007

Platão e o jornalismo

Sempre fui muito ligada à mitologia e à filosofia.
Assim, em meio a uma aula, veio-me a idéia de associar essas áreas, ou pelo menos uma delas, a uma outra paixão, pela qual tenho lutado, estudado e me perguntado; o jornalismo.
Pode parecer presunção demais da minha parte me considerar apta a interligar áreas do conhecimento tão fortes e distintas, mas aceito o desafio, pelo menos na sua forma "ideal", como se num ensaio, já que não tenho arcabouço suficiente para levar adiante essa pesquisa.
Mas, como me é permitido, nesse espaço só meu, divagar sobre tudo o que eu quiser e bem entender, começo delimitando o que passa em minha mente.
A idéia é fazer um paralelo entre as sombras da caverna de Platão e a interpretação jornalística.
Há uma certa hipocrisia no jornalismo ao pregar a total imparcialidade e objetividade. Não há como fazê-lo, em hipótese nenhuma, pois o jornalismo é feito por pessoas, e isso já pressupõe que cada um, ou todos, irão dar sua visão de mundo, sua angulação sobre quaisquer assuntos que tratem.
E o que as sombras na caverna de Platão têm a ver com isso?
Elas, simplesmente, simbolizam a interpretação, a angulação do mundo, só que, nesse caso, feita pelo sol, pela sua luz, e pela leitura que ela faz do mundo e que projeta nas paredes da caverna.
Aquele que não conhece o exterior, é tomado a crer que o que vê é o verdadeiro, é a única alternativa que possui de conhecer o mundo. A interpretação jornalística desempenha a mesmíssima função, já que, a maioria absoluta dos espectadores/leitores, não estava presente no momento em que aconteceu determinado evento, ou não compartilhou do olhar do jornalista que lá estava.
Sejamos condescendentes, não há como sermos total e completamente imparciais em nada, pois cada um de nós traz consigo uma bagagem diferente de vivências, pensamentos, valores e experiências vividas, e, apenas isso, já não garante mais objetividade.
Nós, jornalistas, damos uma representação dos fatos ao restante da sociedade, não significa, necessariamente, que estamos dando a versão mais correta, pois a versão correta também é um ideal e não uma realidade.
Assim, nós e a luz solar, interpretamos o mundo para os que não estavam lá, para os que não o conhecem ou não têm a oportunidade de fazê-lo.
Platão, além de filósofo, torna-se um estudioso de comunicação se tomarmos seu mito da caverna como um paralelo possível de ser feito com o jornalismo, que hoje, tornou-se uma força social imprescindível na construção do mundo que conhecemos.
Não quero com isso desacreditar o jornalismo, pois seria cavar a própria sepultura, já que minha vida, de agora em diante será, em parte, direcionada a ele. Quero apenas abrir os olhos das pessoas para que não creiam cegamente em tudo que vêem ou lêem, que avaliem tudo que lhes é exposto da maneira mais crítica possível.
Que tenham a coragem de sair da caverna, de ver o mundo com seus próprios olhos, de terem a chance de fazer sua própria interpretação da vida e da realidade, sem ficarem presos ao olhar do outro, sem ficarem viciados ou dependentes dele.
A "verdade" está aí fora para quem quiser absorvê-la, conhecê-la, compreendê-la ou mesmo, apenas, contemplá-la.